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terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Tdah e Razões III


Ofender sem querer

O administrador Ricardo de Oliveira, que mora em São Paulo, admite que por mais que tente se controlar, não consegue evitar as gafes. Para ele, assim como para muitos outros que vivem com o TDAH, já se tornou rotina se arrepender daquilo que falou segundos atrás.

- Você até sabe que não deveria falar e logo depois se arrepende. Mas aí já foi, não tem o que fazer. Uma ex-namorada minha era uma garota super tranqüila e relaxada, e não se preocupava tanto quanto eu com as roupas, em se produzir. Uma vez íamos sair e logo que ela terminou de se arrumar eu disse “Mas você vai assim?”. O jeito com que ela me olhou foi suficiente para eu me arrepender na hora. A gente sabe que nunca deve falar uma coisa dessas para uma mulher assim, na cara. Mas na hora não pensei e quando vi já tinha falado.

A psiquiatra carioca Vanessa Ayrão, que realiza pesquisa sobre o TDAH no IPUB, o Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro, explica que por causa da doença os pacientes, sem ter intenção, chegam a falar coisas que podem magoar os outros. Ela conta que eles freqüentemente agem no ímpeto, antes de pensar e colocam os fatos até mesmo de uma maneira agressiva, o que pode acabar minando e comprometendo a relação. O caso de Ricardo ilustra bem esse problema. Ele conta que por causa disso, muitas namoradas já o acusaram de ser “sincero demais”.


‘Ele não me escuta!!!’

Mas a maior queixa dos maridos, esposas, namorados e de quem convive com portadores TDAH é e dificuldade de conseguir conversar com as pessoas sem que ela se distraia, pense em outras coisas e fuja para o mundo da lua no meio da conversa. Se em casamentos em que nenhum dos dois apresenta TDAH a dificuldade de comunicação é um problema constante, imagine então quando o marido ou a esposa simplesmente não consegue prestar atenção ao que o outro diz por muito tempo. A cena é clássica: um deles fala, fala... enquanto o outro parece escutar. Ele pode até ter se concentrado nos início, mas depois se distrai com o som da TV ou olhando o quadro que está na parede logo atrás do parceiro: “Amor, você está me ouvindo?”; “Ah, o que é? Desculpe estava distraído...”. E está o aí estopim para uma discussão das boas, que podem incluir acusações como “você nunca me escuta”, “nada do que eu falo é importante para você”, “você não se importa comigo. Eu te falo uma coisa e na semana seguinte você já não se lembra!”.

- No início, logo que eu conheci a Débora, eu achava um pouco grosseiro o fato de ela se desligar da conversa. Já estamos juntos há quase quatro anos e ainda hoje isso é o que mais me chama a atenção no nosso cotidiano. Muitas vezes eu falo com ela e tenho a sensação de que ela está fazendo uma viagem astral, que está num mundo à parte – brinca o economista carioca Henrique Bastos. Ele conta que já aprendeu a lidar com as “viagens” da esposa, mas que isso não o impede de se irritar em certas ocasiões - Quando estou falando sobre um assunto sério e ela se distrai, eu me irrito. Posso ser compreensivo mas não sou de ferro.

- Eu até tento me concentrar e prestar atenção ao que ele me diz. Mas eu me distraio sem querer. Quando vejo já estou pensando em outra coisa ou olhando para o lado. Depois que iniciei o tratamento médico o problema melhorou bastante. Me sinto mais paciente, consigo ouvi-lo melhor, não sou mais tão impulsiva – se defende a esposa. E como as maiores queixas eram do marido, ele se encarrega agora de fiscalizar os horários em que ela toma os remédios. Henrique diz que percebe pelo comportamento da esposa quando ela se esqueceu dos comprimidos e é o primeiro a cobrar.


Disfunções no funcionamento do cérebro

Mas problemas como esse não são comuns e afetam também pessoas tidas como normais? Os médicos dizem que sim, mas ressaltam que quando a pessoa tem TDAH, os problemas são mais freqüentes e acentuados, o que pode ser bastante desgastante para um relacionamento. Quem não ficaria chateado se o parceiro se esquecesse sempre dos compromissos, datas, aniversários e mesmo do seu prato preferido? Não se trata de falta de interesse ou descaso, mas sim de uma incapacidade com explicações biológicas. Inúmeros estudos científicos já demonstraram que o TDAH sofre forte influência genética e está relacionado a uma alteração de neurotransmissores em determinadas regiões cerebrais.

Se os parceiros reclamam, a situação também não é das mais simples para o portador. Eles tentam, fazem um esforço sobre-humano para vencer as limitações da doença e freqüentemente se sentem frustrados o por não conseguirem agradar ao cônjuge. Os médicos contam que muitos pacientes procuram tratamento médico inicialmente por causa das reclamações dos parceiros. O estímulo para continuar o tratamento e conseguir conviver com a doença também costuma vir deles. É consenso entre os médicos que sem a ajuda e compreensão daquele que está ao lado, convivendo com o portador, o trabalho fica muito mais difícil.

-Para que a vida do portador de TDAH e de seu parceiro seja melhor, os dois precisam estar atentos ao problema. Todas as recomendações valem para ambos. Na hora de uma conversa, é preciso se livrar de quaisquer outros estímulos que possam atrapalhar. Não adianta tentar conversar fazendo outras coisas, como ver TV, preparar um jantar etc. Um marido que tentar falar com a esposa enquanto ela procura um objeto dentro da bolsa está perdendo o seu tempo – explica Marcos Romano. Ele acrescenta que o contato visual é muito importante para facilitar a “ativação” da atenção.

- Na hora de conversar, olho no olho. Nada de tentar conversar a distância, gritando lá do outro cômodo da casa. Eu sei que pode ser chato, mas não adianta tentar falar enquanto vê assiste a um filme. Use sempre o contato visual.


Montanha-russa amorosa

É preciso ainda estar atento a um outro problema causado pelo TDAH. Muitos portadores reclamam que não conseguem estabelecer relações mais duradouras por que, depois de algum tempo, simplesmente se cansam das pessoas. Essa postura traz dificuldade em todas as relações, sejam amorosas, profissionais ou sociais. A doutora Vanessa Ayrão explica que quem tem TDAH tende a se cansar das situações e das pessoas com muita facilidade. Eles estão sempre buscando novidades e, dentro desta lógica, o relacionamento só é interessante enquanto é uma coisa nova.

- Um relacionamento que para uma pessoa comum é tranqüilo, pode ser extremamente entediante para quem tem TDAH. Ele precisa estar sempre criando estímulos para manter o interesse pela relação. Um dos recursos é até mesmo estimular conflitos, criar brigas. Se os dois não tiverem uma postura crítica e se o parceiro “entrar no jogo”, a relação pode se transformar em uma montanha-russa nada agradável – observa Vanessa.

Na tentativa de levar uma vida em um ritmo mais agradável e diminuir os problemas causados pelo transtorno - e evitar assim as broncas da namorada por ter chegado atrasado ou do marido por que você se esqueceu pela vigésima quinta vez de pagar a conta de telefone - os portadores podem criar estratégias que ajudam a vencer a falta de atenção e a memória fraca. O estudante Marcelo - o mesmo que no início da matéria confessou que, enquanto ouvia música, assistia tv ou ou lia revistas, se esquecia de buscar a pobre namorada que o estava esperando – dá algumas dicas que já testou na prática:

- Passei a anotar tudo e deixo escrito em um bloquinho que levo comigo na carteira. Escrevo inclusive um roteiro de coisas a fazer durante o dia. Pendurei também uma lousa no meu quarto, bem em frente a minha cama, e ali coloco com letras garrafais as coisas importantes.

Mas os compromissos sociais marcados com muita antecedência, no entanto, ele já desistiu de guardar.

- Quem geralmente me lembra do que a gente tem para fazer é a minha namorada. Nós confiamos mais na memória dela - brinca o rapaz.


* Rafael Alves Pereira é jornalista formado pela PUC-Rio e trabalha atualmente na Rádio CBN. Ele escreve para a ABDA reportagens quinzenais, que trazem depoimentos de médicos e pacientes e têm o objetivo de oferecer mais informações sobre o TDAH para quem convive com o problema e para o público em geral. São abordados assuntos como o cotidiano do portador de TDAH, avanços médicos na área e o tratamento dos pacientes.



Fonte do texto
http://www.tdah.org.br/reportagem0
e autor:
Por Rafael Alves Pereira*

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