Se nos damos conta de que é no indivíduo que tem nascedouro a violência, fica muito mais explícita a sua origem e, naturalmente, a sua solução.
Em verdade, todos precisamos nos dar conta dos quadros de violência dos quais fazemos parte.
A violência das palavras ásperas, das palavras grosseiras, a violência da pornografia. Falamos o que queremos como se todas as pessoas tivessem a obrigação de nos ouvir o verbo como a gente o queira expressar. E a vida não é bem assim. Se impomos a alguém ouvir-nos nas coisas ruins que queremos dizer, estamos impondo às pessoas violentamente, as nossas ideias.
Se fazemos na nossa casa uma festa e porque estamos na nossa casa ignoramos que os outros vizinhos também estão nas suas casas, fazemos barulho até a hora que bem entendamos porque os outros terão que nos aceitar assim, é violência. Porque se temos direito a fazer barulho em nossa casa, os nossos vizinhos têm direito a ter silêncio em suas casas.
Começamos a nos aperceber das atitudes violentas junto à família: o esposo machista, violento, grosseiro com a esposa; a esposa patologicamente feminista e que acha que a sua palavra tem que ser a última, não ouve a mais ninguém; as agressões contra os filhos; a pancadaria; as brigas entre irmãos dentro de casa são aspectos os mais variados da violência no cotidiano.
Curioso é que não percebemos que isso é violência.
Parece-nos uma coisa muito normal, muito corriqueira nos agredirmos e depois, tudo parece voltar ao normal. Mas as coisas não voltam ao normal que estavam, nunca mais chegamos ao nível zero. Estamos sempre ajuntando lixo nas nossas relações.
E por causa disso mesmo a violência tem começo dentro de nós, estoura nas nossas relações, dentro de casa, no nosso trabalho, com as pessoas com as quais convivemos. Graças a isso é que, a cada dia, a violência urbana aumenta mais.
Parece que o problema da violência urbana é do Governo. Mas o governo da minha casa sou eu, o governo da minha rua sou eu, o governo do meu bairro somos nós.
Então, como fazer para mudar esse quadro que nos incomoda tanto?
Temos que apelar para esse processo de autoeducação. Precisamos aprender a voltar às origens da boa relação.
Saber o que falar perto de quem, respeitar senhoras, crianças, respeitar outras pessoas porque todas as vezes que nós dizemos o que queremos, diz o ditado popular, ouvimos as coisas que não queremos e não gostamos.
Quando dizemos uma palavra de má qualidade, uma palavra de baixo calão, uma palavra indevida, instigamos a reação das pessoas, das que aceitam o que dissemos e daquelas que se rebelam contra o que dissemos.
É da microviolência, digamos assim, a violência do indivíduo, a violência de cada um que nasce a macroviolência.
É da nossa violência individual que advém a grande violência social, não tenhamos nenhuma dúvida.
Quando vemos, numa guerra, soldados se engalfinhando, a guerra não começou com os soldados, começou com cada um dos indivíduos que somaram energias envenenadas.
E essa energia envenenada, essas forças negativas vão impondo à sociedade o desbordar, o desaguar das nossas negatividades reunidas.
Muito mais do que podemos imaginar somos os agentes da violência no nosso cotidiano.
Muito mais do que podemos supor damos ensejo à violência urbana, comentando-a, divulgando-a, devorando essas notícias nos jornais, nas revistas que vendem a rodo o sangue pisado das vítimas sociais.
Quando começamos a fazer essas reflexões, quando partimos para esses entendimentos, agora parece que conseguimos encontrar a saída, a renovação pessoal, o esforço por nos apaziguar, o esforço por nos tranquilizar e fazer com que a cada dia, ao nosso redor, haja harmonia, haja paz.
Transcrição do Programa Vida e Valores, de número 152,
apresentado por Raul Teixeira, sob coordenação da
Federação Espírita do Paraná.
http://nunesjanilton.blogspot.com.br/2013/04/violencia-cotidiana.htm